Bio

Waldemar Euzébio Pereira
Waldemar Euzébio Pereira

Waldemar Euzébio Pereira, escritor, poeta, compositor e músico, nasceu no dia 25 de junho de 1946, na cidade de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. Lá, viveu até os primeiros dias de janeiro de 1971, quando foi para Belo Horizonte, onde constituiu família, formou-se em Direito na UFMG e, ainda hoje, reside.

É o terceiro de uma família de 14 filhos, onde a música é o traço comum. O pai, Geraldo Euzébio, tropeiro, carroceiro, operário e motorista tinha sangue africano. Dele – que era músico “de ouvido”, tocava violão, cavaquinho e bandolim – vieram as primeiras referências musicais. A mãe, Inês Pereira de Souza, costureira “de ouvido” e dona de casa, tinha sangue indígena. Ambos herdaram de seus pais o desconhecimento das letras. Geraldo nunca frequentou escola. Inês tentou o Mobral depois dos quarenta anos: conseguiu pegar no lápis e copiar o nome. Dos 14 filhos do casal, nove tiveram formação superior e dois em nível técnico.

Ainda adolescente, tocava violão e começou a compor. Concluiu a classe de violino pelo Conservatório Lorenzo Fernandes, como bolsista da diretora Marina Lorenzo Fernandez Silva. Integrou o Grupo Banzé de danças folclóricas e, como ator, atuou em diversas peças teatrais em sua cidade natal.

Na formação do gosto pela leitura, as bibliotecas públicas tiveram papel fundamental. Na Biblioteca Pública de Montes Claros, conheceu Olavo Bilac, Cândido Canela, Monteiro Lobato, Cyro dos Anjos, Machado de Assis, entre outros. A leitura preferida era a de um livrão azul e parrudo, “O Tesouro da Juventude”. Por ele, ficava-se sabendo por que o leite talhava em dia de chuva. Era importante o conhecimento incomum: Leonardo da Vinci, Júlio Verner e sua viagem debaixo d’água.

Embora já houvesse descoberto o gosto pela escrita, só em abril de 1976 reuniu anotações, em prosa e verso, no livro PROSOEMA (Ed. do Autor). Sobre ele, disse o prefaciador escritor, poeta e jornalista Henry Correa de Araújo: “Este primeiro livro não é a sua medida. Será, antes de tudo, o primeiro passo para solidificar dentro do homem a irresistível vocação literária que o acompanha desde os tempos de Montes Claros/Menino”.

A essa altura, admirador de carteirinha de Adão Ventura, simpatizava-se grandemente com a sua arte poética. O estilo seco e cortante de Adão foi perseguido no seu segundo livro, DO CINZA AO NEGRO (Mazza Edições, 1984). Com estrutura semelhante ao anterior, PROSOEMA – textos e versos – porém, com proposta oposta, DO CINZA AO NEGRO trata das vivências externas do escritor. Dele disse, no prefácio, o escritor e crítico literário Marco Antônio Souza: “Este livro é um encontro de sins, de verdades superpostas a outras verdades, quer dizer, nele a filosofia encontra curso e direção. É o homem que vê o menino que vê a realidade que vê a dor fisicamente estampada na Memória. Passadas vivências”.

São muitos os autores que o influenciaram e continuam influenciando. Pois cada um lhe empresta um pouco de sua maneira de lidar com a arte de escrever. Machado de Assis, pelo domínio implacável do personagem e, consequentemente, da narrativa. Lima Barreto, pelo olhar contundente do social. Mario Vargas Llosa, pela arquitetura estrutural da narrativa em cumplicidade com o tempo. Ernest Hemmingway, pela facilidade de exposição e desenvolvimento de ideias. No mesmo diapasão, Oswaldo França Jr., notadamente, em Dois Irmãos.

Em outubro de 2004, publica o livro de contos ACHADOS (Mazza Edições, 2004), no qual retrata parte da trajetória de sua infância. Estruturado em narrativas que procuram refletir a visão da sociedade, a partir do ponto de vista de uma criança negra, pobre e discriminada, traz uma experimentação de linguagem que reflete a tensão entre o falar letrado e o arrevesado, este, também objeto de discriminação, pelo locus social que identifica o falante. A abordagem da discriminação é revigorada pela sutileza de tratamento que lhe dá o autor.

No ensaio à guisa de prefácio, o poeta e pesquisador Alexandre Pilati, adverte: “O que a prosa de Euzébio demonstra é o dilaceramento contraditório entre esses dois pólos (traduzido noutros termos na oposição local universal). A matéria da contradição é um de seus achados. O incômodo do texto é o que encanta o leitor. Texto inquieto = pensamento inquietado. Nada de milagre. Nada de modismos. Nada de pose, nem de pós-ismos. Simplesmente literatura. Simplesmente brasileira”. De igual modo, Marcos Dias, poeta e ensaísta: “(…) quando o material arrojado sobre os nossos pés, como restos inúteis de um naufrágio, é a nossa própria existência, mais especificamente a nossa infância, envilecida pela extrema pobreza e toda espécie de preconceitos? Descobriríamos, então, que WEP está a anos-luz dos tantos dilacerantes de plantão, com os quais tropeçamos nas estantes das livrarias e bibliotecas ou nas esquinas de nossa vid(inh)a literária; que ele é um humanista no sentido pleno; e que a função da sua literatura, que tão bem nos ilumina a experiência, é devolver a dignidade aos que nasce(ra)m e sobrevive(ra)m ao naufrágio dos seus valores”.

Em 2015, no recém-lançado 25 BOLEROS ENTRE SAMBAS, o poeta aprofunda o seu fazer poético, explorando o alargamento entre a palavra e o seu sentido, utilizando-se, para tanto, da história do bolero e da ginga do samba. Do bolero, o envolvimento amoroso. Do samba, a ancestralidade de gênero. Ritmo é matéria orgânica. Na introdução do livro, Eduardo de Assis Duarte descreve: “Nesse entrecruzar de experiências e linguagens ganha força a poesia, grávida de novos sentidos e valores. (…) o poeta-músico se junta ao fotógrafo Jorge Quintão – artista da forma e da imagem como poesia. O resultado é uma elaborada construção intersemiótica em que a palavra parece flutuar e bailar perante os olhos do leitor. A poesia cresce no diálogo com a página que lhe dá suporte, traz a imagem para dentro de si. A ilustração deixa de existir enquanto simples moldura para o verso, passando a integrá-lo na materialidade do texto.